A morte, este estranho conceito

Nesta data, quando subscreve este blog, recebe um email no qual revelo os três segredos da minha produtividade. Se tivesse de acrescentar um quarto segredo, sem dúvida que seria este:

Ter a noção de que vou morrer um dia.

A perceção que tenho da minha própria mortalidade pode ser totalmente diferente da perceção que tem da sua. Faço esta afirmação com base na experiência que tive nos meus 29 anos, uns meses antes de fazer os 30, em que percebi que vou mesmo morrer um dia.

É claro que já sabia isso antes dos 30, não passei quase metade da minha vida a pensar que sou imortal. A diferença é que até uns meses antes de me tornar trintão, o meu entendimento acerca da morte era meramente conceptual.

O que mudou então?

Desde essa altura que sou assolado de um sentimento de urgência.

Um sentimento que me diz que tenho de me despachar a fazer aquilo que tenho a fazer, porque não é só nos filmes que as pessoas batem as botas. A morte é real e já esteve bem mais longe.

Aceitar a morte.

Há uns anos atrás, estava a ver os livros na Fnac dos Armazéns do Chiado, quando me deparo com um livro chamado “O Código do Samurai”. O livro despertou a minha curiosidade e comecei a ler as primeiras páginas, fui ficando envolto no texto e acabei por ir sentar-me na sala de leitura. Quando dei por isso, tinha lido o livro todo.

Esta foi a segunda vez na minha vida que li um livro todo de seguida no próprio dia (a primeira vez foi quando li O Alquimista de Paulo Coelho). “O Código do Samurai” faz jus ao título e é um livro sobre as regras pelas quais os samurais se regiam.

Embora o livro fosse fascinante, a única lição de que me recordo, é a de que um samurai devia de ter sempre presente na sua mente a morte. A sua própria morte e aceitá-la.

O tempo é demasiado escasso para ser desperdiçado.

No meu caso, aceitar que vou morrer um dia é mais complicado. Todavia, é um facto que a morte está muitas vezes presente na minha mente, o que me ajuda a não procrastinar, assim como a ter um propósito para a minha vida.

Pode parecer algo sombrio pensar na própria morte, contudo, estes pensamentos não vêm de um lugar de horror nem de pânico, mas antes de um lugar de consciencialização. Se está a ler isto e é muito mais novo que eu (menos de 26 anos), será quase impossível entender este conceito e ter noção da sua própria mortalidade.

Quando temos 20 anos é como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Podemos não priorizar, fazer planos mas nunca os seguir, dar prioridade em viver as experiências que vão surgindo ocasionalmente na nossa vida, e não há nada de mal nisso.

Da indecisão à execução.

Já ouvi dizer que entre os 20 e os 29 anos, as pessoas passam a vida a pensar no que querem fazer, e a partir dos 30 é quando começam realmente a executar. Revejo-me nessa afirmação.

As experiências vividas na casa dos 20 anos formam o nosso caráter e contribuem para o nosso desenvolvimento pessoal como nenhumas outras a partir dos 30. Num artigo recente, escrevi que a maioria das pessoas se transforma em zombies algures entre os 27 e os 30 anos.

O que quis dizer com esta afirmação, é que quando chegam a essa idade, entram num estado de dormência, deixam de ter sonhos e objetivos, e simplesmente arrastam-se até ao dia seguinte para viver mais um dia igual ao anterior.

Apenas sobrevivem e esperam pela morte, mas sem se aperceberem. Pois se tivessem a clara noção de que um dos seus dias será o último, não agiriam como mortos vivos (dos lentos que se arrastam a babarem-se e não dos mega agressivos que parecem que estão dopados).

A morte é de facto um estranho conceito. Estar vivo é fabuloso, mas viver, é ainda melhor.

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