A arte de ignorar o caos

Acabaram-se os tempos em que vivíamos num mundo perigoso e imprevisível. Ao longo da História, a esperança média de vida tem aumentado gradualmente a nível mundial.  

Basta consultar os dados da Our World in Data para constatar que não existe um único país no mundo inteiro, com uma esperança média de vida mais baixa, do que aquela que era a mais alta nos países com a maior esperança média de vida em 1800. 

Parece um paradoxo, mas o mundo nunca foi tão seguro como é hoje em dia, apesar da segurança ser uma ilusão que não existe verdadeiramente. 

O que isto significa, é que é razoável e até relativamente fácil manter uma vida com rotinas, sem precisar de estar num estado de alerta constante, como se tivesse de contar a toda a hora com perigos repentinos e situações totalmente imprevisíveis. 

Talvez seja por isso que nós humanos nos tenhamos transformado em criaturas de hábitos que gostam de se manter no conforto das rotinas. Afinal de contas, se sobrevivemos ao dia anterior, até que ponto será má ideia repetirmos hoje os comportamentos de ontem? 

Uma agenda organizada gera uma vida com propósito. 

As rotinas estão presentes no nosso dia a dia quer tenhamos consciência disso ou não. A arte de direcionarmos as nossas ações em direção a um objetivo concreto, consiste precisamente em escolhermos as nossas rotinas, em vez de deixarmos o acaso preencher os espaços em branco. 

Ao planear os nossos dias, planeamos também o nosso futuro. E se acha que o destino é completamente aleatório, saiba que apesar da sua imprevisibilidade, as suas decisões terão sempre influência na sua vida. 

Dedicarmos regularmente um tempo próprio ao nosso propósito de vida traduz-se na nossa realização pessoal. Se está, tal como eu, em busca da maestria numa área, sabe bem do que estou a falar. 

Bloquear o tempo – o caminho para a maestria. 

Observe as rotinas de qualquer pessoa que quer seriamente ser reconhecida pelo seu ofício, e verá que tem sempre entre uma a quatro horas diárias exclusivas para a prática deliberada da sua arte (entenda-se por arte qualquer domínio no qual alguém queira atingir a maestria).  

Chama-se a esta prática “bloquear o tempo”. Quando “bloqueia o tempo”, significa que durante o período agendado não faz rigorosamente mais nada sem ser a atividade planeada. Não atende chamadas, não permite interrupções e não espreita as suas redes sociais. O seu foco está todo no seu propósito. 

O caos em segundo plano. 

Existe caos nas nossas vidas. Às vezes não damos por ele, mas quando as grandes calamidades nos batem à porta, o caos espalha-se por todo o lado. 

Nos momentos em que bloquear o tempo para realizar a sua prática deliberada, o caos continuará presente em segundo plano. Por esse motivo, precisa de cultivar a arte de o ignorar. 

Para ignorar a desordem numa ou mais áreas da sua vida durante o tempo em que faz algo de construtivo, tem de abdicar do controlo temporariamente

Mas não é só nas alturas em que está dedicado às suas metas que pode ignorar o caos. Pode fazê-lo também na sua vida social, quando está a desfrutar do tempo com o seu grupo de amigos. 

Quando lê um bom livro, quando se deita para dormir à noite, e em todos os momentos em que pensar no que não está bem prejudica a oportunidade do momento presente.  

O caos estará sempre presente. 

Este artigo não tem como propósito convencê-lo a ignorar os seus problemas. O objetivo é que saiba quando é a altura de ignorar o caos e quando é altura de o tentar gerir. 

O caos estará sempre presente nas nossas vidas, tentar controlá-lo na sua totalidade é meio caminho andado para o burnout. E por mais estável que tudo pareça neste momento, o caos chegará em força. É apenas uma questão de tempo. 

No entanto, às vezes aquilo que parece altamente caótico só o é até nos adaptarmos a um novo ambiente. Este é mais um motivo para abdicar do controlo em momentos estratégicos.  

Desta forma poderá deixar o caos fluir, porque às vezes, a melhor maneira de o controlar, é não tentar fazê-lo. 

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